Circuitos da História Mítica

 

Não obstante o fosso geralmente cavado entre mito e história positiva, a cifra existencial dos povos jamais sancionará o apagamento da memória primordial da humanidade.


Percurso 1: Cabo Espichel: Ecos portugueses da Atlântida

O Atlantis nesos ou Atlântida de Platão, maior que a Líbia e a Ásia reunidas e localizado adiante das Colunas de Hércules, abrangeria talvez algumas ilhas atlânticas, a Hespéria e a Mauritânia. Habitavam-no um conjunto de povos com a mesma origem, afectados de forma duradoura por sucessivos desastres orogénicos seguidos de transgressões marinhas e alterações climáticas.

As comunidades mesolíticas, surgidas do apocalipse como uma aurora brusca, poderão ser justamente consideradas a solução de continuidade deles. As repercussões do evento terão de igual modo impressionado os egípcios que transmitiram o relato a Sólon, o qual o anotou traduzindo os nomes egípcios para a língua grega.

Os habitantes de MU, ou atlantes dos helenos, são nele creditados pelos sacerdotes de Sais como detentores de uma brilhante civilização, capaz de competir com outras talassocracias pela supremacia do Mediterrâneo.

Diversos locais do litoral atlântico peninsular poderão reivindicar para si tal herança. Porém em nenhum outro rincão da orla marítima ocidental a nostalgia dela atingiu a densidade rastreável no Espichel, cuja vizinhança, Tubal, neto de Noé, elegeu para fundar Setúbal, iniciando assim o povoamento de toda a Hispânia, segundo a opinião divulgada por Santo Isidoro de Sevilha, acolhida na Crónica do Mouro Razis, transmitida à tradição monástica portuguesa de quinhentos e de meados do século seguinte e exposta por eruditos de renome, como Manuel Faria e Sousa.


Percurso 2: Vila Viçosa: O mistério dos Reis sem Coroa

Não é conhecido o teor exacto do documento pelo qual D. João IV determinou, em 6 de Dezembro de 1644, que Nossa Senhora da Conceição fosse declarada padroeira de Portugal.

É, portanto, compreensível a especulação que o acto tem motivado. Acrescendo ainda a circunstância de o monarca Restaurador lhe haver doado a coroa Real Portuguesa na sequência da sua aclamação, em 1 de Dezembro de 1640, inaugurando desse modo uma dinastia de Reis sem Coroa.

Que arcano maior da História pátria poderá ter suscitado tal procedimento?

Vila Viçosa será um dos palcos da perquisição, que também contempla uma visita a Olivença.


Percurso 3: O Porto (O)Culto

A cidade invicta é, regra geral, notícia mercê da aparentemente impar, no âmbito nacional, aptidão empreendedora das suas gentes. Tal faceta, genuína, muito embora frequentemente exacerbada por um bairrismo desproporcionado, tem subjacente um universo genesíaco cuja matriz permanece, apesar de tudo, difusa e indefinida, senão oculta.

O que se visa com este programa é uma aproximação ao génio do lugar portucalense, mediante a revisitação de algumas das suas mais intensas epifanias: a Sé, o convento observante de São Francisco, o museu Soares dos Reis, os jardins de Serralves, a igreja de Leça do Balio e o santuário do Senhor de Matosinhos são apenas uns quantos dos destinos previstos.


Percurso 4: Museu Nacional de Arqueologia: Mitos, ritos e crenças da Lusitânia

Seminário a realizar no Museu Nacional de Arqueologia, subordinado ao tema: Teogonias da Lusitânia e religiões lusitano-romanas.


Percurso 5: Córdova e Granada: A aura mistérica e sufi do Al-Andalus

Al-Andalus foi a designação adoptada pelos autores muçulmanos para nomear a Espanha árabe (bilah al-Andalus = país do Andaluz).

A extensão da entidade indicada pela expressão original foi minguando até ficar reduzida a Granada, durante o séc. XV.

O vocábulo perdurou, no entanto, para além da queda de Granada, designando as suas províncias, emiratos e principados, ou seja, toda a região a que na actualidade se chama Andaluzia (Almeria, Granada, Málaga, Jaen, Córdova, Sevilha, Cádiz e Huelva), exceptuando, o al-Gharb Andaluz, o qual foi reconquistado antes de todos esses territórios, constituindo o que hoje é Castela-a-Nova.

A partir de 1860, designadamente a região de Guadalquivir e zonas serranas adjacentes, foi cenário de um dos movimentos milenaristas mais importantes dos tempos modernos, cujo epílogo, em 1933, ficaria assinalado pela tragédia de Casas Viejas.

Constituem alusões veladas à geomância os relatos da descoberta de palácios maravilhosos e cidades mágicas no al-Andalus - caso da Cidade de Cobre, lenda que imortalizou Musa Ibn Nusayr -, tópico omnipresente na literatura árabe, denotando o minucioso esquadrinhamento pelos adeptos muçulmanos (sufis certamente) dos vestígios da sacralidade primordial do território peninsular.

Acresce que os muçulmanos reivindicaram ter descoberto na Hispânia a célebre Mesa de Salomão, construída numa única e gigantesca esmeralda, posteriormente considerada por alguns (por exemplo, Wolfram d' Eschenbach, no Parzifal) o autêntico Graal. O seu conteúdo chegou a ser identificado com a Pedra Filosofal, cujo achado no al-Andalus é relatado nas Mil e Uma Noites, a propósito das conquistas de Tarik-ben-Siyad:

[...] e achou também um grande salão no qual os cavaleiros podiam correr lanças, todo ele cheio de pós herméticos. Uma dracma deles podia transmutar mil dracmas de prata em ouro puro. Encontrou igualmente um espelho maravilhoso, grande e redondo, fabricado de uma liga de metais, o qual fora fabricado para Salomão, filho de David (Deus seja louvado) e quem olhava para o espelho era capaz de ver nele a imagem dos sete climas do universo [...].


Percurso 6: Enclaves Druídicos Transmontanos
 

 
Free Joomla! templates by Engine Templates