|
|
|
Seminário Permanente I
FILOSOFIA HERMÉTICA
|
O que terão em comum Ibne Arabi, Moisés de Leão (redactor do Zohar), Marsilio Ficino, Francisco de Holanda, Gomes Freire de Andrade, Eliphas Levi, Helena Blavatsky, René Guénon, Rudolf Steiner, Fernando Pessoa, Ezra Pound, Raúl Leal, António Maria Lisboa?
A seu modo, todos eles cultivaram uma postura espiritual, cujo impacto advém não de uma revelação original que, de facto, não existe, apesar de em certos casos formalmente enunciada, mas de uma comunhão de pressupostos aos quais, hoje, por extensão semântica, é moda chamar esotéricos. Ora, estes mais não constituem que a parte visível (exotérica) de um icebergue que mergulha profundamente num oceano, fonte e origem das diversas correntes e contracorrentes que banham os continentes da memória humana.
O oceano a que me reporto dá pelo nome de Filosofia Hermética.
Com efeito, Filosofia ou Tradição Hermética e Hermetismo são designações consagradas para um corpo de textos, o Corpus Hermeticum, expondo doutrinas (de teor por vezes divergente) oriundas do Egipto (Mênfis, Sais, Hermopólis e Tebas) e consignadas em tratados gregos elaborados durante os séculos II a III, os quais os neoplatónicos por as suporem reveladas pelo deus Thoth, atribuíram a Hermes, Trismegisto ou três vezes grande, qualificativo que só surge com o hermetismo filosófico, fazendo a sua aparição cerca de 237 d. C., numa inscrição votiva encontrada perto de Akhmîm.
Trata-se, dirão alguns, de um sistema filosófico marginal, ingénuo e sem qualquer expressão significativa, designadamente em Portugal.
Desiluda-se quem assim pensa.
De facto, nem a alegada ortodoxia dos nacionais nem a vigilância intensa desenvolvida pelo Santo Ofício, lograram impedi-la de medrar. De resto, se a matéria fosse pacífica nunca teria havido necessidade de invectivá-la, por vezes com uma veemência a denotar, invariavelmente, um ponderado conhecimento do tema, quer por parte dos seus apologistas, quer dos respectivos contraditores.
E, já agora, como justificar a presença anormal da Filosofia Hermética (para mais representada por obras maioritariamente proibidas) na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, o único acervo bibliográfico monástico preservado in situ em Portugal?
*
O perfil do participante neste Seminário será não o de um filósofo ou de um especialista, mas, preferencialmente, o de um observador atento, culto e disposto a iniciar-se numa propedêutica do Hermetismo, sob as facetas filosófica, ocultista e pós-modernista ou New Age, sem jamais perder de vista o Corpus Hermeticum e as doutrinas da Teologia Primordial (Prisca Theologia), bem assim como as fontes e expressões nacionais.
Bibliografia
Manuel J. Gandra Corpus Hermeticum e Filosofia Hermética
|