A história que se ensina e que baseia a governação e os comentários jornalísticos, outrora matéria oficial dos cronistas régios e ainda hoje departamento predilecto da erudição académica, está para a história integral como a espuma suja da superfície para as fermentações de um líquido, ou como a queda outonal da folhagem e o seu apodrecimento sob a chuva para a evolução biológica das plantas: uma parte, e parte miserável, de um nobre conjunto [...]. A história integral possui outro plano oculto, o da subterrânea acção criadora - subterrânea como a das raízes daquele arvoredo que no Outono se despiu das suas frondas que lhe sobem das ocultas raízes. A essa história enganosa e ruídosa da superfície opõe-se a verdadeira e silenciosa, a das fermentações profundas, a das raízes invisíveis, a infra-história - zona em que a inteligência estimulada por todos os anseios labuta, não pelo domínio do homem sobre o homem, sim pelo domínio do homem sobre a Terra, com toda a fenomenalidade que o envolve e todo o cenário do Cosmos que o defronta. Essa infra-história é que determina a agitação da história aparente. Assim a realidade profunda e invisível do mundo vibratório do átomo determina a aparência enganosa e bela do mundo empírico das sensações [...] como em boa verdade coexistem os dois mundos, o das sensações de perímetro humano e o da vibração atómica de perímetro universal, assim coexistem os dois planos da história, o da aparência superficial e o da realidade profunda. FIDELINO DE FIGUEIREDO
O futuro de Portugal, previsto por Pessoa, de sermos tudo e de todas as maneiras possíveis, não se decidirá enquanto se não esgotar o hiato “entre-reinos” (Interregno) vaticinado em Ourique e durante cuja vigência “ninguém sabe que coisa quer, nem o que é mal, nem o que é bem”. Serão incontáveis os nascidos por castigo no finisterra galaico-português, escasseiam aqueles que optaram fazê-lo por missão. Constitui essa uma inexorável fatalidade característica dos períodos de Interregno que, ciclicamente, assolam as humanidades, as nações e os indivíduos. Aspirar “a algo de novo”, de forma voluntarista e desencontrada da vocação, colectiva ou individual, não logrará dissipar o sentimento de Finis Patriae, nem, tão pouco, tornará Portugal susceptível de uma refundação, ainda que genuína e militantemente convocada. De facto, a refundação de Portugal, quando a Hora soar, supõe a convergência com a supra-nação e jamais será compaginável quer com sobressaltos de moda, quer com interesses instalados que intentem prevalecer sobre o desígnio nacional, consabidamente do foro paraclético. Tal memória perene constitui o objecto deste Seminário (ora reeditado a partir de uma ideia ensaiada em 1982-1983), cujo propósito visa o encontro consigo próprios, no seio do Génio Português, de todos quantos aspiram à vivência empenhada da Tradição Lusíada. * Módulos basilares e temas das sessões previstas
ARQUEOLOGIA DAS ORIGENS
CULTOS E DEVOÇÕES
POÉTICA E POESIA HIEROFÂNICA
QUINTO IMPÉRIO E SEBASTIANISMO
PORTUGUESIAS
SÍMBOLOS E MITOS
O perfil do participante neste Seminário será não o de um filósofo ou de um especialista, mas, preferencialmente, o de um observador atento, culto e disposto a iniciar-se numa propedêutica do Hermetismo, sob as facetas filosófica, ocultista e pós-modernista ou New Age, sem jamais perder de vista o Corpus Hermeticum e as doutrinas da Teologia Primordial (Prisca Theologia), bem assim como as fontes e expressões nacionais.
Bibliografia
|
||||