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Festival do Labirinto |
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Não obstante a diversidade das formas e da semântica multiforme assumidas, desde a pré-história aos nossos dias, o labirinto, também denominado Jardim de Dédalo, seu mítico criador, figura a caminhada do viandante deste mundo em demanda do seu destino supramundano. Desvelá-lo assevera-se um desafio vitorioso na condição de, mediante a intuição, ou o discernimento, ser encontrada a escapatória libertadora das contingências do mundo, figuradas pelos movimentos horário e anti-horário impostos pelos meandros instauradores do percurso. Uma tal imagem justamente evoca o vaivém caótico do tempo profano e indiferenciado que antecede a inserção plena no cosmos, isto é, na ordem cíclica sagrada, alcançada uma vez ocupado o centro do labirinto. Nisso consiste um dos magnos mistérios que o calendário anual encerra, qual hierofania redentora, simetricamente assinalada pelos Equinócios da Primavera e do Outono, eventos manifestos, cada um a seu tempo, da coesão e da dissolução cósmicas, respectivamente. |
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Algures, entre o século XVI e o XVII, o labirinto adquiriu uma feição eminentemente lúdica, sem embargo, ainda metafórica da Vida Humana. Refiro-me ao Jogo do Ganso (oie), da Oca, ou da Glória. O número 9 rege este Jogo, circunstância que denota o termo e súmula de um ciclo (noves fora, nada =Vazio absoluto) e consequente recomeço de todos os processos vitais. A (trans)mutação suposta a cada 4, 5 e múltiplos de 9 anos, ou casas (18, 27, 36, 45, 54, 63) é assinalada por uma OCA. Impelido pela Fortuna ditada pelos dados, o viandante confronta-se nesse palco da vida, com as contingências desta e respectivos obstáculos que favorecem, ou dificultam o seu progresso. Os referidos obstáculos, figurados por 63 casas, ou passos, não são arbitrários, nem tão pouco, os números envolvidos. Com efeito, a sequência de 63 casas contíguas, dispostas em espiral, de molde a serem percorridas da periferia para um centro, justificava-as Hipócrates, enquanto imagem da existência do ser humano, organizada, ou subdividida, em 9 períodos de 7 anos (= 63 anos). Descontadas as quatorze casas ocupadas por gansos (oie, ou oca), remanescem 49, das quais 6 obrigam o viandante a pagar uma multa (realizar uma prova), mediante a qual há-de obter uma determinada retribuição (avaliação): Na 6ª (A Ponte), passa à 12ª casa; Na 19ª (O Albergue), aguarda que os demais viandantes completem duas jogadas; Na 31ª (O Poço), aguarda que outro viandante assuma o seu lugar; Na 42ª (O Labirinto), é compelido a retroceder para a 37ª (Ramo de flores); Na 52ª (A Prisão), permanecerá detido até ser substituído por outro viandante; Na 58ª (A Morte), será remetido para a casa 1, a partir da qual recomeçará o percurso da vida. Existem ainda 2 casas, ou passos, com efeitos particulares: a 26ª e a 53ª, que o viandante será autorizado a abandonar, só após ter obtido o valor 9 (4+5, ou 3+6) no lançamento dos dados. O objectivo final do percurso é alcançar a derradeira casa (63ª), o que, justamente, representará descobrir e assumir o Destino individual, mediante a combinação equilibrada da Fortuna com o discernimento. |
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Na versão adoptada no FESTIVAL DO LABIRINTO apenas são consideradas 7 ocas (9, 18, 27, 36, 45, 54 e 63). Sugere-se a cada um dos viandantes que durante o seu trânsito por elas tente evocar reminiscências relativas aos ciclos da sua vida já percorridos (na idade respectiva), ou as metas que visa alcançar nos ciclos a percorrer. Recordem-se todos, no entanto, que a sua entrada no labirinto e, consequentemente, na vida, não ocorreu aleatoriamente (quando a própria vontade, ou o denominado “livre arbítrio” lho ditou), mas apenas quando tal lhe foi permitido, isto é, na OCASIÃO propícia à concretização do DESTINO que a cada um assiste. |
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