|
|||||
De todos os povos de Europa somos aquele em que é menor o ódio a outras raças ou a outras nações. É sabido de todos, e de muitos censurado, o pouco que nos afastamos das raças de cor diferente, quando [...]. O nosso antigo impulso imperial — embora o viciasse, como a todos os impulsos de domínio material, o egoísmo humano — pretendia, antes de mais nada, a descoberta de novas terras, e depois a conversão ao cristianismo das populações delas. É injusto supor-se que a ideia de conquista tivesse de princípio grande parte na nossa vida imperial. Nunca tivemos uma ânsia verdadeira de conquista. Nossa posição geográfica, de uma parte, nossa pequenez, de outra, no-lo inibiam. Fruto destas condições mésicas, somos assim. O que de ódio nasceu em nós contra castelhanos, contra franceses, contra ingleses (contra alemães nunca verdadeiramente chegámos a ter ódio, tão pouco somos dados a isso), derivou de justas causas, de agressões, de perigos e de explorações de que temos sido vítimas. (Verify) Os índios da Índia inglesa dizem que são índios, os da Índia portuguesa que são portugueses. Nisto, que não provém de qualquer cálculo nosso, está a chave do nosso possível domínio futuro. Porque a essência do grande imperialismo é o converter os outros em nossa substância, o converter os outros em nós mesmos. Assim nos aumentamos, ao passo que o imperialismo de conquista só aumenta os nossos terrenos, e o de expansão o número de os imperialismos da Besta da cabala e de Apocalipse.
s. d. Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional (Ed. Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão; Introd. Joel Serrão), Lisboa, Ática, 1979, p. 87 |
![]() |